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quinta-feira, 24 de março de 2016

Crônicas de um recruta - Parte 31

     Olá, amigos!

     Hoje, posto mais um capítulo dessa epopeia!

     Sim, estou conseguindo produzir bastante por estes dias. Isso não é uma beleza???

     Brincadeiras à parte, vamos então nos entreter com mais um pedacinho desta dinâmica aventura, nes't pa?

     Vamos nessa...


31


     Seguimos para a área do cerimonial onde - pela primeira vez - foi feita a chamada. Dois estavam faltando. Um deles era o Silveira(o chorão). Pensei com meus botões que estes iam se lascar de verdade. Faço uma pequena careta ao imaginar como deveria ser ficar preso no quartel. Espero nunca ter de descobrir.
     Somos conduzidos para uma outra sala, diferente da que já estávamos acostumados. Esta situava-se no lado oposto à Base Aérea, em um pavilhão conjugado ao muro de divisa, no primeiro pavimento. Era enorme. Deveria ter, talvez, uns 250 metros quadrados. Suas paredes - com exceção onde ficavam as janelas - estavam cheias de mapas extremamente detalhados. Do bairro onde estávamos, da cidade, da região metropolitana, do estado e por fim de toda a região sul do Brasil, que era a 5ª Região Militar. Cada um deles em várias escalas. Próximo à mesa do instrutor ficava uma grande maquete envidraçada do batalhão, em um nível de detalhe que eu nunca tinha visto antes. Ali, o "jagunço" passa o comando da instrução para uma terceiro-sargento e se retira. Ele era mais baixo do que eu, não mais do que 1,70 metro. Olhos e cabelos claros. Expressão de inteligência e calma. Bigode claro e bem aparado. Me passou a impressão de não ser um neurótico como o sargento Barreto. Se apresenta:
     - Bom dia, senhores! Eu sou o terceiro-sargento Canestraro. Os senhores sabem por que estão aqui? - pergunta, numa voz de um timbre intermediário entre grave e agudo, com leve sotaque "gaúcho".
     - Não, senhor! - respondemos, mal prestando atenção à pergunta, dado o grau de deslumbramento da cambada.
Ele ordena que nos sentemos. Só então continua:
      - O objetivo da pesença dos senhores aqui hoje...

"Senhores?"

... é o início do seu aprendizado em técnicas de orientação, que consistem basicamente de duas coisas: A leitura exata de mapas e uso correto de uma bússola. Tudo o mais depende disso. Hoje começaremos com a teoria. Aprenderão o princípio de funcionamento da bússola. O que são pólos magnéticos. O que é e como funciona o campo magnético do planeta. O que significa o norte verdadeiro e o norte geográfico e compreender como mensurar as diferenças entre eles. O que são graus e como eles se aplicam na navegação, seja terrestre, em cursos d'água ou em mares e oceanos. A relação entre astronomia e orientação espacial..."
     Esta preleção foi longa, mas muito interessante. Não só pra mim, pude perceber. A galera estava "ligada". Sempre me interessei por astronomia, e na escola ficava ansioso para aprender mais, depois que o professor de ciências aguçava a nossa curiosidade com aqueles singelos exercícios de localizar o norte geográfico a partir da direção onde o Sol nasce. Lembro-me de desenhar nos cadernos muitas e muitas vezes a rosa-dos-ventos, bem como mapas de regiões reais e imaginárias para matar o tempo nas férias escolares. De fazer maquetes, inclusive uma que ganhou um prêmio da escola, toda confeccionada em cartolina do Parque de Ciências onde tínhamos ido numa excursão da escolar.
     Devo dizer que o Canestraro possuía didática e "domínio de público" excelentes. Completamente diferente daquele cabo armeiro estúpido que nos ministrara sua especialidade na semana passada. Tanto é que a manhã passou numa velocidade incrível. Quando dei por mim, a turma já estava sendo dispensada para o almoço.
      Desta vez fomos simplesmente dispensados ainda dentro da sala, sem formar fila para seguir pro refeitório, sem ninguém para nos conduzir, nada disso. Estranhei, porque fugia à regra a que tíhamos nos acostumado. Bom, deve ser o estilo de cada instrutor. Uns são carrascos, outros razoáveis. Uns rígidos, outros flexíveis...
Chegamos ao refeitório, pegamos o grude e como sempre os "quatro cavaleiros do apocalipse" sentam-se juntos(o Jackson com certeza era o Fome!). Não sei porque, mas achei que a comida estava mais palatável hoje. Pensei comigo que provavelmente já estava "desenvolvendo paladar". É que nem o sujeito que toma cerveja pela primeira vez.      No começo, o troço é um fel. Com o passar do tempo fica uma delícia!!(experiência pessoal, minha gente!).
O papo corre sem amarras. Mas como sempre, sou eu quem puxa o assunto:
     - Que estranho! Posso estar enganado mas, nós não teríamos TFM na instrução da manhã? Não foi isso que o jag... sargento Barreto nos disse sexta-feira?
     - Não estou lembrado, Flávio. - responde o Vinícius, antes de colocar uma garfada na boca.
    - Disse sim, eu lembro muito bem! - falou o Jackson de boca cheia, cuspindo uns caroços de feijão no processo.
Nós três olhamos para ele ao mesmo tempo. O Sandro nada diz, apenas cerca sua bandeja com os braços, no intuito de protegê-la de uma possível nova saraivada.
     - Velho, "cê" não consegue engolir a comida antes de falar? - pergunto.
Ele apenas murmura:
     - Desculpa aí! - responde, abrindo aquele sorrisão que já virou sua marca registrada.
     - Pois é. - prossigo - O que será que houve? Por que esta mudança de escala?
E continuo, agora num tom de voz conspiratório:
     - Será que o "batatinha" ficou sem jipe?
Gargalhada geral. Nós quatro rimos desbragadamente, chamando a atenção de todos os que estavam nas mesas em volta. Os "antigos' não gostaram nada daquilo. Ficaram nos olhando de cara feia, talvez achando que estávamos fazendo troça deles. Dando-nos conta da atenção indevida que atraímos, nos fechamos em copas outra vez.


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