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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Conto: Sete luas, oito planetas, quinze galáxias.

     Bom dia, boa tarde, boa noite nobres leitores desde engatinhante blog!

     Lembram que lhes falei que em breve publicaria aqui contos de outros gêneros literários?

"Sim, nos lembramos!"

     Então, hoje vou postar um conto de Ficção Científica que concorreu em um outro blog chamado Entre Contos, num desafio de autores(Muito bom, diga-se de passagem).

     Isto não significa que as aventuras do Flávio acabaram. Apenas serão intercaladas com outros contos, para dar uma "quebrada" na rotina. Em breve o "reco" voltará a aprontar das suas...

     Bom, sem mais delongas o conto. Espero que gostem!



      Abro os olhos e vejo, sob um véu vermelho, apenas a poeira ocre que aderiu em parte do plexigas do visor de cristal líquido em frente ao meu rosto. Choco-me ao notar grandes trincas em sua estrutura. Se ela ceder, estarei morto em trinta segundos. Olho em todas as direções, tentando entender o que houve. Ondas de náusea me invadem. Não consigo me mexer. Sinto um gosto ferruginoso na boca. Provavelmente sangue. Ordeno um checkup em meus sinais vitais e estrutura física através da tela holográfica por comando neuronal. Nada. Nem sequer estática. Tento movimentar as pernas. Impossível. Braços? Idem. A mesma coisa com o pescoço e a cabeça. Comunicador? Sem resposta. Sinal de emergência hiperespacial? Ligado. Sistemas de suporte de vida; em funcionamento. Há um pequeno vazamento de oxigênio em uma microfissura abaixo do braço esquerdo, mas nada preocupante. Dispositivo de chamada de robôs auxiliares? Estática.
     Após esta primeira verificação, passo a tentar me relocalizar no tempo e no espaço. O ponto de partida é o momento imediatamente anterior à minha retomada de consciência. O que por mil parsecs aconteceu afinal? Não consigo de imediato organizar as ideias. Ao que parece, o que houve foi suficientemente grave para desorganizar até mesmo meus arquivos cerebrais. Um caleidoscópio de imagens dançam diante dos meus olhos. Apenas borrões. Tento inspirar mais ar, sinto-me sufocado. Ao fazê-lo, uma dor lancinante percorre a caixa torácica. Devo ter costelas quebradas. O que me atingiu foi algo tão forte que conseguiu ferir-me mesmo dentro do traje de nanofibras de carbono. Noto acima de mim, através de uma abertura a segunda lua de Plexus 12. A última coisa de que me lembro era ter olhado para a gigante vermelha que serve de sol ao sistema em que me encontro e pensar que a posição em que estava indicava claramente o fim do meu turno neste planetóide onde há um complexo de mineração de cobalto. Diante dessa reflexão, concluo que estive “apagado” por mais de seis horas!
     Onde estão meus companheiros? O Sergey? O Woo? O Ramón? E o operador das perfuratrizes, o Schneider? O que lhes terá acontecido? Será que estão bem? Por que não se comunicam? Estarão feridos – como eu – ou até mesmo… Não! Não pense nisso! Provavelmente estão te procurando neste poço de mina e vão lhe tirar dessa enrascada! Tudo o que tenho de fazer é esperar, tentando achar um jeito de estabelecer contato.
     Súbito, lembro-me que este traje possui sistemas de auto reparo de emergência. Ordeno acesso ao software. Sem resposta. Insisto. Nada. Mas que diabos! Persisto. O sistema se digna a dar sinal de vida, talvez por causa da veemência com que foi requisitado. O display holográfico dança diante dos meus olhos como uma velha TV mal sintonizada do já longínquo século 21. “Diagnóstico!” Ordeno imperativamente. Tenho de repetir o comando várias vezes para obter a resposta. E o que vejo me gela os ossos. Módulo de energia operando abaixo dos 30 por cento. Duração provável: Duas horas. Bateria de emergência: Inutilizada. Sistemas de suporte de vida: danificados, além da capacidade de reparo pelos nanorobôs. Sistemas de diagnóstico biológico: Inutilizados. Sistemas de Posicionamento Interplanetário: Operando, mas com falhas. Tanques de oxigênio: 25 por cento da capacidade. Estimativa de esgotamento: Duas horas e 20 minutos. Sistema de comunicação: Inoperantes. Sucesso de reparo estimado em 42 por cento. Paro por aqui. Prefiro nem olhar o restante. Preciso manter o sangue frio para poder raciocinar com clareza. Ordeno o reparo imediato do sistema de comunicação, apesar de relutar um pouco, devido ao fato de que o auto reparo consome cinco vezes mais energia do que o normal. Mas é imperioso que eu possa estabelecer contanto com qualquer ser vivente que possa me tirar desta ratoeira. Por hora, nada posso fazer a não ser esperar.
     Cada inspiração é um sacrifício. Grossas gotas de suor se formam em minhas têmporas. Continuo me esforçando, tentando recuperar movimentos. Meus membros formigam. Bom sinal, antes nem isso sentia. Com muito esforço, levanto o braço direito e retiro a poeira do visor. Tenho uma visão mais clara do meu redor. Consigo mexer a cabeça. Esforço-me um pouco mais e levanto vagarosamente o tronco, por causa das dores horríveis. Grandes paredes do túnel número 4 ruíram totalmente, esmagando todos os equipamentos, robôs mineradores e auxiliares. Duas novas preocupações. Primeira; os sistemas de elevação foram triturados pelos escombros. Estou preso aqui, porque este maldito traje antigo não conta com propulsores e a gravidade neste pedregulho seco é equivalente à gravidade do meu planeta natal. Por mais que seja leve, ele limita meus movimentos e não há saliências no poço que me sirvam de apoio na subida. Segunda: O sistema de detecção – que por milagre ainda funciona – começa a indicar uma altíssima leitura de radiação proveniente das baterias esmagadas embaixo das milhares de toneladas de rochas. E não há vedação adequada contra este perigo.
     À medida que os reparos avançam, começo a escutar meias palavras cuspidas junto com estática. Tendo entender o que se diz, mas é um quebra cabeças com peças quebradas. A náusea se intensifica, a cabeça começa a girar. Perco o equilíbrio frágil em que estava e caio para trás com estrondo, urrando de dor. Apago. Acordo pouco depois com o som estridente do alarme de radiação. O sistema de comunicação já se encontra parcialmente operacional. Agora consigo distinguir palavras inteiras. E reconheço a voz de um dos meus amigos: É o Schneider! Um clarão de esperança enche meu peito. Não estou só! Alucinadamente, tento fazer contato, indicar minha posição, dizer que estou vivo. Em más condições, mas vivo:
     – Gama 3! Gama 3! Gama-Ponta 1 chamando! Está na escuta, Gama 3?
Não há resposta. Apenas a mesma litania acompanhada de estática, que estava agora menos intensa. Insisto:
     – Gama 3! Gama 3! Gama-Ponta 1 chamando! Está na escuta, Gama 3?
     Nada. Escuto-o falar sem interrupção. Mas não há a mínima resposta. Por alguma razão, ele não consegue me ouvir. Talvez a radiação esteja dando interferência. Troco as faixas de frequência, num esforço inútil. Em todas as outras não encontro nenhum sinal de vida. Até que, numa determinada faixa consigo captar uma linguagem muito diferente, mas inconfundível; Morlockianos. Como? Estamos no Setor 5-2, a pelo menos 80 anos luz de distância da Zona NGC, que delimita a fronteira! Eles estão por perto, porque até onde sei o alcance do meu equipamento é de no máximo 5 anos luz. Apuro os ouvidos, me concentrando no que dizem. Como sei muito pouco do seu idioma, consigo apreender apenas três palavras: “Guerra”, “ataque” e “mineradora”.
     Sinto o sangue congelar nas veias. O coração martela dentro do peito. A respiração entrecortada acelera-se, intensificando a náusea. Com muito custo consigo conter o conteúdo do meu estômago. Forço-me à calma, porque agitação significa maior consumo de oxigênio, que já estava chegando a um nível crítico. Procuro novamente a faixa onde estava escutando o Schneider. Com os reparos quase concluídos, a estática diminui consideravelmente. Assim, consigo entender o seu comunicado:
   “A todos que possam me ouvir! Isso é urgente! Meu nome é Wilhelm Schneider, Gama 3 da Companhia Intergaláctica de Mineração CC-1! Transmito esta mensagem do Centro de Comando e Controle das minas de cobalto de Plexus 12, no sistema de Tartan 6! Estamos sendo atacados por um esquadrão alienígena não identificado! REPITO: Estamos sendo atacados por um esquadrão alienígena não identificado! Quem estiver ouvindo esta mensagem, por favor comunique imediatamente ao Comando da Frota de Andrômeda! Necessitamos de ajuda imediata! REPITO: Necessitamos de ajuda…”
     Uma grande explosão interrompe a transmissão, que após alguns segundos, volta ao seu começo. Meu amigo sabia que iria morrer, e antes mesmo de terminar a gravação, a colocou em loop. Minha visão se embaça. Grandes lágrimas se formam em meus olhos. Choro copiosamente, em soluços. Choro por meus amigos. Choro por mim mesmo. Choro pelas dores atrozes. Choro pela sensação de abandono. Choro por causa da certeza de que morrerei aqui. Choro por minha esposa. Por minha mãe. Por meu filho, que não vejo há seis meses. E que não mais verei.
     Engasgo-me e começo a tossir. Filetes de sangue escorrem pelos cantos da boca. Começo a invejar o fim que meus amigos tiveram. Morreram imediatamente, sem sofrer, sem se acabar nesta agonia por que passo agora. Minha mente vagueia, voltando para o passado, quando ainda morava na Terra. Fui para lá transferido logo que ingressei na Companhia, como inspetor geral de perfuração. Lembro-me como se fosse hoje o seu lema:
     “CIM/CC-1: Minerando em sete luas. Construindo oito planetas. Servindo a quinze galáxias.”
     Lá conheci uma maravilhosa moça, secretária do diretor de operações. Uma fantástica jovem, de cabelos negros lisos e brilhantes, olhos negros e pele cor de mate. Nasceu onde era o antigo Brasil, que foi integrado ao Bureau de Governança Global em 2186. Lembro-me do nosso primeiro encontro na costa. Do nosso casamento. De nossas núpcias em um magnífico litoral tropical no hemisfério sul daquele abençoado planeta. De quando eu soube que ela estava grávida. De nossas expectativas e sustos por ter sido uma gestação de risco. Da sensação única de segurar meu filho em meus braços pela primeira vez. Da festa que minha família fez pela sua chegada….
     Sou arrancado do meu transe pelos múltiplos alarmes que soam, como que penetrando diretamente no meu cérebro. São seis ou sete deles, indicando falhas iminentes. Seleciono a opção de abaixar seus volumes, já que não existem meios de desligá-los por completo. Ainda tenho uma última coisa a fazer. Aciono o gravador, que estava em paralelo com o sistema de transmissão:
     ” Meu nome é Ricardo Sermant Gobler, supervisor de mineração da CIM/CC-1. Por motivos que ignoro, fomos atacados ao que tudo indica por um esquadrão da Frota Morlockiana. Meus colegas de trabalho foram mortos imediatamente, pelo que sei, sendo então – até aqui – o único sobrevivente. Há uma mensagem em loop deixada pelo operador Wilhelm Schneider, que corrobora as minhas informações. Estou preso no túnel 4 da ala leste do complexo, sem possibilidade de escapar por meus próprios meios, dado que estou num traje padrão AN 7.5 e os sistemas de elevação foram destruídos. Neste momento, todos os meus sistemas estão em situação de falha iminente. Não consigo fazer um diagnóstico preciso dos meus ferimentos porque o sistema de monitoramento biológico foi inutilizado. Devo estar com as duas pernas fraturadas e perfuração em um dos pulmões. Se por acaso alguém estiver na escuta, solicito ajuda imediata. Caso esta não seja ouvida, peço apenas que, quando me encontrarem, entreguem por favor a mensagem que segue à minha família:
     Querida Lana, meu tesouro, minha vida! Não poderei mais estar na companhia sua e de nosso pequeno Anders. Mas não se preocupe, não estou com medo. Sinto apenas não poder abraçá-los uma última vez. Não poder aconchegar em meus braços o fruto do nosso amor. Também, minha querida mãe, não chore. É a vida. Infelizmente aconteceu. Mas tenha orgulho, afinal. Porque cumpriste tua missão. Teu filho foi um homem de bem. E que te deixa um neto. Assim, tua missão se renova, ao conduzi-lo, junto com minha amada esposa, nos caminhos da justiça e do que é bom. Nunca se esqueça de que eu viverei nele, porque é meu sangue. Beijo, minha querida! Estou agora olhando suas sorridentes fisionomias em meu display, e esta visão é que levarei comigo para sempre. Nunca se esqueçam de que os amo. De que sempre os amarei.
     E que, de qualquer maneira, voltarei para casa um dia…”


Bom, that's all folks...

Dúvidas, críticas, sugestões ou elogios? Coloque abaixo, ok?

Até a próxima!

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