expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Crônicas de um recruta - parte 24


     Olá pessoal! 

     O sumido aqui não morreu não, tá? Estou na batalha, literal e figurativamente falando!

     Bem, não está muito fácil acessar, escrever e postar, mas não pretendo torrar vossa paciência com todo este blá, blá, bla, certo? Apenas quero aguçar a curiosidade de vocês dizendo que logo haverão contos de outros gêneros e categorias literárias por estas bandas. É muito em breve. Aguardem.
     E principalmente, mantenham a fé....

     Bem, aqui vai a parte 24 destas Crônicas que já são um livro....

     Apreciem!



24

    
     Terminada a cerimônia, somos conduzidos até o auditório. Lá sou chamado à frente, após um soldado entrar na sala e entregar uma folha de papel para o sargento Barreto. Tremi por dentro, porque pensei que tinha cometido algum erro passível de punição, que seria aplicada talvez ali mesmo pelo jagunço. Ele me ordena:
     - Recruta Flávio, faça o favor de se dirigir até o prédio da administração.
Faço menção de perguntar o que houve, mas a simples visão da sua carranca fez meu ímpeto morrer tão rapidamente como tinha surgido. Ele me aponta o soldado e com um gesto manda-me segui-lo.
     Minha cabeça está a mil. O que foi que eu fiz? Não marchei direito? Falei alguma besteira? Fiz alguma coisa que não devia? Não consigo me lembrar de nada! Mas, peraí... Essa não! Acho que quebrei o protocolo quando olhei daquela maneira para a tenente Kayla! É isso! Seu burro, deu bandeira demais! E agora? O que eu faço? Como vou me justificar? Vai ver ela estava olhando daquele jeito porque estava me censurando, não fazendo juras de amor, seu palhaço! Bom...nada a fazer. O negócio agora é aguentar firme o que quer que aconteça.
     Chegamos no prédio da administração. Na escrivaninha ao lado do hall de entrada um outro soldado se dirige a mim:
     - Recruta Flávio?
     - Sim. - respondo, ressabiado.
    - Seus pais estiveram aqui e entregaram o seu CAM, que foi esquecido. Não preciso mais da sua identidade civil. Aqui está. - diz ele, me estendendo o documento.
     - É tudo? - pergunto, me desarmando.
     - Não. A tenente Kayla ordenou ao sargento que o liberasse por alguns minutos, porque deseja lhe falar. Suba a escada e vire à direita na primeira sala. Bata antes de entrar. Isso é tudo.
     Enfio a cédula no bolso esquerdo da gandola e sigo para a sala indicada subindo a escada. Outra vez começa um turbilhão na "caixola". Será que ela vai me dar um bom sabão pessoalmente? Fico parado ali, diante daquele soldado, que por sua vez nota que há algo errado:
     - O que há contigo, recruta? Vai ficar aí parado ou vai obedecer de uma vez a ordem da tenente? Tá esperando o quê?
     Saio da minha hipnose e me dirijo taciturnamente para a sala da Kayla. Gozado. Eu deveria estar "flutuando". Mas agora parece que meus coturnos são feitos de chumbo. Instintivamente paro. Olho em volta e respiro fundo uma, duas, três vezes. Me concentro, forçando-me à calma, consciente de que todos os pares de olhos que por ali se encontram reservam a mim suas atenções. Subo as escadas, bato na porta e retiro a "tampa do lixo". Entro como um gato assustado, tremendo por dentro. A tenente, sentada em sua escrivaninha, ao me olhar muda de expressão imediatamente percebendo como estou através da minha fisionomia:
     - Sente-se Flávio. Você está bem? - pergunta ela, com expressão de preocupação.
     - Estou. Estou sim. - minto.
     - Não, não está. É evidente. O que houve? - pergunta novamente, de forma incisiva e ao mesmo tempo suave.
Este simples gesto seu foi o suficiente para diminuir o meu nível de adrenalina. Percebi que não tinha sido chamado até ali para ser hostilizado ou punido. Resolvo falar:
     - Pensei que tinha feito algo errado durante a cerimônia e que seria punido por isso. - digo, num súbito e sincero desabafo.
     - Oh! Entendo! - sorri ela, mostrando todos os seus lindos e alvos dentes, como pérolas brilhantes recém colhidas. E continua:
     - Não se preocupe, não foi por isso que o chamei. Mas, sente-se. E isso é uma ordem! - completa, com ar divertido(pelo menos foi o que me pareceu...).
Finalmente sento-me, já não mais sentindo a necessidade de sair correndo. Ela inicia a conversa:
     - Os motivos que me levaram a lhe chamar foram os seguintes: Primeiro; tive a oportunidade de conhecer seus pais esta manhã. Foi uma conversa informal bastante agradável e instrutiva. Dito isto, talvez você esteja se perguntando o porque. Explico; este procedimento é muito útil em meu trabalho, visto que posso entender de forma mais plena o contexto do perfil psicológico de uma determinado colega, superior ou subordinado. Suas origens e o meio onde vivem dizem muito a respeito das pessoas e de seu comportamento, caráter e índole. Mas, deixo claro que isto não é com maus intentos e muito menos com o objetivo de ser intrusiva. Pelo contrário. Antes, o que intenciono é justamente ajudar aos que venham a precisar de suporte, seja ele qual for. Assim chegamos ao segundo motivo...
Minha expressão, que primeiro era de apreensão e em seguida de alívio, passa para a de curiosidade misturada com embaraço por imaginar o que meus pais tanto tinham dito a ela. O que será que chamou tanto a sua atenção a ponto de interromper a instrução para que eu estivesse aqui, diante dela?
     - ...Bem, Flávio, além do que conversei com sua família, tive acesso a informações sobre seu comportamento no primeiro dia como militar efetivo. Pode parecer pouco mas, somando isto com os demais dados obtidos na nossa entrevista anterior e ao psicotécnico realizado, tenho a lhe dizer que você é uma pessoa que tem um enorme potencial, bem como talentos e determinação incomuns para a sua faixa etária e formação. Mas, você precisa de orientação adequada para que este potencial seja plenamente explorado. Assim, tenho uma proposta a lhe fazer; eu gostaria de prover a ajuda necessária para atingí-lo, mediante acompanhamento. O que me diz?
Pego assim de surpresa, fiquei sem reação. Apenas corado por aquela deusa fazer-me aqueles elogios. Só consigo retribuir-lhe o olhar, que aguardava inquisitivamente uma resposta.
     - Vejo que está um tanto indeciso. - retoma ela - Talvez porque esta proposta tenha sido um pouco prematura. Por outro lado, não vi motivos válidos para aguardar uma outra ocasião para fazê-la. Afinal, quanto mais cedo se começa, mais cedo se alcança o que se quer, não?
Sinto um "clique" no meu cérebro, que foi acionado pela última frase que ela disse. Nem preciso dizer qual era meu objetivo naquele momento, ao ter o prazer de apreciar aquela escultura diante de mim. Respondo de imediato, ocultando cuidadosamente minhas intenções:
     - Seria ótimo, senhora!
   - Esqueceu-se do nosso trato, Flávio? - lembra-me ela, sobre nos tratarmos informalmente.
    - Oh! Sim, desculpe-me, Kayla! Bem, como eu disse, seria ótimo. Quero mesmo conhecer-me melhor. Quem sabe assim consigo traçar metas e planejar meu futuro a longo prazo. Será maravilhoso para mim poder contar com sua ajuda para isto.

"Ela nem sabe o quanto..."

     - Ótimo. Fico feliz em ouvir isso. Começaremos então na próxima semana, ok? Mandarei um ofício ao comandante fazendo a requisição necessária para tal. Você será informado em breve quanto ao dia e horário. Tem mais alguma coisa a dizer? Alguma colocação a fazer?
   - Não, não. Apenas te agradeço imensamente por ter julgado-me ser digno da sua atenção e assistência.
     - Não me agradeça, Flávio. Você fez por merecer.
Seguem-se alguns segundos de silêncio. Noto que ela está ligeiramente embaraçada, mas procura não deixar transparecê-lo. Quebra-o então:
     - Certo. Acho melhor eu dispensá-lo. Afinal, o sargento Barreto o está aguardando para poder começar com a instrução da manhã.
     Dizendo isso ela se levanta e me estende a mão. Eu aperto-a, fico em posição de sentido e presto-lhe continência. Ela sorri. Peço-lhe licença e me retiro, colocando minha cobertura. Assim que fecho a porta cheiro minha mão, que ficou com resquícios do delicioso perfume que ela estava usando naquela manhã. Sinto uma euforia tão intensa quanto difícil de descrever. Não dá para colocar em palavras - mesmo tantos anos depois - o que se passava em meu coração naquele momento. tal foi o meu estado de torpor que só me dei conta de onde estava quando vi a carranca contorcida de despeito do jagunço, percebendo que estava novamente na sala de instrução.


Bom, é isso aí, pessoas! 

Até a pròxima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário