Olá pessoal!
O sumido aqui não morreu não, tá? Estou na batalha, literal e figurativamente falando!
Bem, não está muito fácil acessar, escrever e postar, mas não pretendo torrar vossa paciência com todo este blá, blá, bla, certo? Apenas quero aguçar a curiosidade de vocês dizendo que logo haverão contos de outros gêneros e categorias literárias por estas bandas. É muito em breve. Aguardem.
E principalmente, mantenham a fé....
Bem, aqui vai a parte 24 destas Crônicas que já são um livro....
Apreciem!
24
Terminada
a cerimônia, somos conduzidos até o auditório. Lá sou chamado à
frente, após um soldado entrar na sala e entregar uma folha de papel
para o sargento Barreto. Tremi por dentro, porque pensei que tinha
cometido algum erro passível de punição, que seria aplicada talvez
ali mesmo pelo jagunço. Ele me ordena:
-
Recruta Flávio, faça o favor de se dirigir até o prédio da
administração.
Faço
menção de perguntar o que houve, mas a simples visão da sua
carranca fez meu ímpeto morrer tão rapidamente como tinha surgido.
Ele me aponta o soldado e com um gesto manda-me segui-lo.
Minha
cabeça está a mil. O que foi que eu fiz? Não marchei direito?
Falei alguma besteira? Fiz alguma coisa que não devia? Não consigo
me lembrar de nada! Mas, peraí... Essa não! Acho que quebrei o
protocolo quando olhei daquela maneira para a tenente Kayla! É isso!
Seu burro, deu bandeira demais! E agora? O que eu faço? Como vou me
justificar? Vai ver ela estava olhando daquele jeito porque estava me
censurando, não fazendo juras de amor, seu palhaço! Bom...nada a
fazer. O negócio agora é aguentar firme o que quer que aconteça.
Chegamos
no prédio da administração. Na escrivaninha ao lado do hall de
entrada um outro soldado se dirige a mim:
-
Recruta Flávio?
-
Sim. - respondo, ressabiado.
-
Seus pais estiveram aqui e entregaram o seu CAM, que foi esquecido.
Não preciso mais da sua identidade civil. Aqui está. - diz ele, me
estendendo o documento.
-
É tudo? - pergunto, me desarmando.
-
Não. A tenente Kayla ordenou ao sargento que o liberasse por alguns
minutos, porque deseja lhe falar. Suba a escada e vire à direita na
primeira sala. Bata antes de entrar. Isso é tudo.
Enfio
a cédula no bolso esquerdo da gandola e sigo para a sala indicada
subindo a escada. Outra vez começa um turbilhão na "caixola".
Será que ela vai me dar um bom sabão pessoalmente? Fico parado ali,
diante daquele soldado, que por sua vez nota que há algo errado:
- O que há contigo, recruta? Vai ficar aí parado ou vai obedecer de
uma vez a ordem da tenente? Tá esperando o quê?
Saio
da minha hipnose e me dirijo taciturnamente para a sala da Kayla.
Gozado. Eu deveria estar "flutuando". Mas agora parece que
meus coturnos são feitos de chumbo. Instintivamente paro. Olho em
volta e respiro fundo uma, duas, três vezes. Me concentro,
forçando-me à calma, consciente de que todos os pares de olhos que
por ali se encontram reservam a mim suas atenções. Subo as escadas,
bato na porta e retiro a "tampa do lixo". Entro como um
gato assustado, tremendo por dentro. A tenente, sentada em sua
escrivaninha, ao me olhar muda de expressão imediatamente percebendo
como estou através da minha fisionomia:
-
Sente-se Flávio. Você está bem? - pergunta ela, com expressão de
preocupação.
-
Estou. Estou sim. - minto.
-
Não, não está. É evidente. O que houve? - pergunta novamente, de
forma incisiva e ao mesmo tempo suave.
Este
simples gesto seu foi o suficiente para diminuir o meu nível de
adrenalina. Percebi que não tinha sido chamado até ali para ser
hostilizado ou punido. Resolvo falar:
-
Pensei que tinha feito algo errado durante a cerimônia e que seria
punido por isso. - digo, num súbito e sincero desabafo.
-
Oh! Entendo! - sorri ela, mostrando todos os seus lindos e alvos
dentes, como pérolas brilhantes recém colhidas. E continua:
-
Não se preocupe, não foi por isso que o chamei. Mas, sente-se. E
isso é uma ordem! - completa, com ar divertido(pelo menos foi o que
me pareceu...).
Finalmente
sento-me, já não mais sentindo a necessidade de sair correndo. Ela
inicia a conversa:
-
Os motivos que me levaram a lhe chamar foram os seguintes: Primeiro;
tive a oportunidade de conhecer seus pais esta manhã. Foi uma
conversa informal bastante agradável e instrutiva. Dito isto, talvez
você esteja se perguntando o porque. Explico; este procedimento é
muito útil em meu trabalho, visto que posso entender de forma mais
plena o contexto do perfil psicológico de uma determinado colega,
superior ou subordinado. Suas origens e o meio onde vivem dizem muito
a respeito das pessoas e de seu comportamento, caráter e índole.
Mas, deixo claro que isto não é com maus intentos e muito menos com
o objetivo de ser intrusiva. Pelo contrário. Antes, o que intenciono
é justamente ajudar aos que venham a precisar de suporte, seja ele
qual for. Assim chegamos ao segundo motivo...
Minha
expressão, que primeiro era de apreensão e em seguida de alívio,
passa para a de curiosidade misturada com embaraço por imaginar o
que meus pais tanto tinham dito a ela. O que será que chamou tanto a
sua atenção a ponto de interromper a instrução para que eu
estivesse aqui, diante dela?
-
...Bem, Flávio, além do que conversei com sua família, tive acesso
a informações sobre seu comportamento no primeiro dia como militar
efetivo. Pode parecer pouco mas, somando isto com os demais dados
obtidos na nossa entrevista anterior e ao psicotécnico realizado,
tenho a lhe dizer que você é uma pessoa que tem um enorme
potencial, bem como talentos e determinação incomuns para a sua
faixa etária e formação. Mas, você precisa de orientação
adequada para que este potencial seja plenamente explorado. Assim,
tenho uma proposta a lhe fazer; eu gostaria de prover a ajuda
necessária para atingí-lo, mediante acompanhamento. O que me diz?
Pego
assim de surpresa, fiquei sem reação. Apenas corado por aquela
deusa fazer-me aqueles elogios. Só consigo retribuir-lhe o olhar,
que aguardava inquisitivamente uma resposta.
-
Vejo que está um tanto indeciso. - retoma ela - Talvez porque esta
proposta tenha sido um pouco prematura. Por outro lado, não vi
motivos válidos para aguardar uma outra ocasião para fazê-la.
Afinal, quanto mais cedo se começa, mais cedo se alcança o que se
quer, não?
Sinto
um "clique" no meu cérebro, que foi acionado pela última
frase que ela disse. Nem preciso dizer qual era meu objetivo naquele
momento, ao ter o prazer de apreciar aquela escultura diante de mim.
Respondo de imediato, ocultando cuidadosamente minhas intenções:
-
Seria ótimo, senhora!
-
Esqueceu-se do nosso trato, Flávio? - lembra-me ela, sobre nos
tratarmos informalmente.
- Oh! Sim, desculpe-me, Kayla! Bem, como eu disse, seria ótimo. Quero
mesmo conhecer-me melhor. Quem sabe assim consigo traçar metas e
planejar meu futuro a longo prazo. Será maravilhoso para mim poder
contar com sua ajuda para isto.
"Ela
nem sabe o quanto..."
- Ótimo. Fico feliz em ouvir isso. Começaremos então na próxima semana, ok? Mandarei um ofício ao comandante fazendo a requisição
necessária para tal. Você será informado em breve quanto ao dia e horário. Tem mais alguma coisa a dizer? Alguma colocação
a fazer?
-
Não, não. Apenas te agradeço imensamente por ter julgado-me ser
digno da sua atenção e assistência.
-
Não me agradeça, Flávio. Você fez por merecer.
Seguem-se
alguns segundos de silêncio. Noto que ela está ligeiramente
embaraçada, mas procura não deixar transparecê-lo. Quebra-o então:
-
Certo. Acho melhor eu dispensá-lo. Afinal, o sargento Barreto o está
aguardando para poder começar com a instrução da manhã.
Dizendo
isso ela se levanta e me estende a mão. Eu aperto-a, fico em posição
de sentido e presto-lhe continência. Ela sorri. Peço-lhe licença e
me retiro, colocando minha cobertura. Assim que fecho a porta cheiro
minha mão, que ficou com resquícios do delicioso perfume que ela
estava usando naquela manhã. Sinto uma euforia tão intensa quanto
difícil de descrever. Não dá para colocar em palavras - mesmo
tantos anos depois - o que se passava em meu coração naquele
momento. tal foi o meu estado de torpor que só me dei conta de onde
estava quando vi a carranca contorcida de despeito do jagunço, percebendo que estava novamente na sala de instrução.
Bom, é isso aí, pessoas!
Até a pròxima.
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