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segunda-feira, 21 de março de 2016

Crônicas de um recruta - parte 28

     Olá, povo!
    
     Mais uma parte das crônicas do nosso já conhecido "pensador da periferia", o "reco ponderão" da Infantaria!
     
     Não sei vocês, mas acho ele um sujeito que pensa demais... Cheio de conflitos e disputas internas. Qual a explicação para isso, nobres leitores? Tem alguma opinião? Se quiserem, serão bem vindos para deixá-las nos comentários, certo?

     Vamos ler este novo post?




28


     Naquela noite, ficamos horas conversando no sofá da sala. Eu contando minhas aventuras passadas dentro do "20" naquela primeira semana. Meu irmão e meus pais me colocando a par da situação em casa. O Marquinho tagarelando feito uma matraca, no seu entusiasmo pré-adolescente. Foi - até onde me lembro - a mais longa conversa em família que tivemos.
     Questionei várias coisas, tais como sobre a rescisão de contrato do meu pai, o emprego da minha mãe, as contas em casa e principalmente o que eles tinham falado de mim para a Tenente Kayla e sua reação quando ela os abordou. Minha mãe disse que ficou bastante surpresa e preocupada num primeiro momento, achando que eu tinha aprontado alguma(Ah... Nada como a velha desconfiança materna!). Já meu pai falou que precisou de uma explicação detalhada para compreender o significado daquilo. Mas que depois achou muito positivo e oportuno. Foi só após que ele "abriu o jogo" e disse à Tenente tudo o que ela perguntou, além de algumas informações adicionais. E foi aí que fiquei preocupado:
     - O que raios você disse a ela, pai? Não me falou nada que me envergonhasse, não é? - pergunto, alterando o tom de voz.
     - Deixa e ser besta, moleque! Acha que eu ia fazer uma coisa dessas? - retruca ele, nada satisfeito com a minha atitude.
      - Ah, tá! Deixa pra lá. - respondo, conciliatório.
    - Se você esperasse eu acabar de falar! - e continua - Eu tive uma conversa muito interessante onde expus um pouco da sua personalidade, inteligência e interesses. Nada mais. Satisfeito, sabichão?
     - Poxa, desculpa pai! - digo, já arrependido de ter trazido este assunto à tona.
     Assim transcorreu aquela noite. Outra boa notícia que tive foi que meu tio ofereceu ao meu pai uma oportunidade para trabalhar na banca de jornais com ele por alguns meses, até que encontrasse outra vaga. O salário era informal e inferior ao que ele recebia no shopping, mas somado ao seguro desemprego dava para aliviar a situação temporariamente. Meu tio também prometera que usaria seus contatos para dar uma força pro meu velho se recolocar no mercado de trabalho o mais rapidamente possível.
     Jantamos e só depois disso é que fui para o quarto colocar o pijama para depois dormir. Fiquei me olhando no espelho do velho guarda-roupa um tempão, fazendo poses, caras e bocas. Ao fazer a verificação prévia dos bolsos antes de trocar de roupa, aquele papelzinho que me fora entregue mais cedo como que salta para as minhas mãos:

"Salete"
" 364-XXXX"

     - Hum... Então é assim que ela se chama... - murmuro, pensativo.
     Aí é que me dei conta de que nem o seu nome tinha perguntado. Que falta de modos... Bom, também não disse o meu, se não me engano. Nem precisava. Ela com certeza o leu, pois eu estava "etiquetado".
     Sabe, fico me perguntando se naquele dia receberia dela a mesma atenção não estando fardado. "Pois é, cabrón. Ela não não gostou de você. Gostou do uniforme." A partir deste pensamento a indiferença bateu novamente, apesar de ter achado bastante agradável a sua companhia. Fiquei olhando - indeciso - aquele pedaço de papel, sentindo o leve perfume que nele fora deixado por suas mãos. Minha mente formula argumentos a favor e contra jogá-lo fora. O conflito se instala. E como toda disputa que se preze, originou sentimentos contraditórios, teorias confusas, postulados furados, uma montanha de frustração e, por fim, nenhum resultado concreto. Assim, fiz o que sempre fazia em casos como este: Joguei a causa do problema na "caixa das decisões sine die". O papelzinho voltou para onde tinha saído e a mente tratou de esquecer do caso. Temporariamente. Ou não.
     Aquele primeiro fim de semana resumiu-se em comer muito, dormir mais ainda e gabar-se - nem se fale! Eu precisava muito recarregar as baterias. Não só pelo que tinha sido, mas pelo que eu imaginava que viria pela frente. O "jagunço" deixou isso muito claro na sexta feira de manhã, logo antes do rancho. No meio de tudo isso, momentos onde a mente se concentrava novamente na Kayla, aquela tentação morena de olhos de ágata. Os devaneios improváveis sobre um relacionamento com aquela deusa grega, galões de oficial em meus ombros... Eita ferro! Que se dane, é só um sonho mesmo! E pra sonhar não se paga imposto, uai!
    O sábado veio e se foi, o domingo já chegava ao fim. A tristeza se instalou quando o "Fantástico" anunciou o fim do programa. É a famigerada depressão pré segunda-feira. Tratei de ajustar os despertador e ir logo pra cama. Seria outra longa semana...

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