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quarta-feira, 16 de março de 2016

Crônicas de um recruta - Parte 26

     Olá, nobres e um tanto decepcionados - eu diria - leitores!

     Sim! Acreditem, isto não é uma miragem! Estou e volta  e o Flávio também( em "carne", "osso" e farda engomada!)!
Bom, após algumas idas e vindas agora eu posso dizer que...

"Eu voltei, voltei para ficar! 
 Eu voltei, porque aqui é o meu lugar..."

     De agora em diante, no mínimo um post semanal, sem falta. É uma promessa(de ano novo?)!

Muito bem, sem mais delongas, a parte 26. Espero que gostem!


26

     Esse "abraço de urso" também não durou muito tempo. Mesmo assim, foi mais demorado do que qualquer um que eu houvesse recebido em qualquer outra ocasião. Até hoje sinto alegria ao relembrar esta cena. Nem preciso dizer que tenho com esta família uma sólida e próspera amizade até hoje. Conversamos por alguns minutos ali mesmo. A família do Vinícius não escondia que estava orgulhosa dele, apesar de não concordar muito com a sua resolução de servir ao Exército ao invés de estar fazendo curso superior.
      Mais tarde ele me contou que essa sua aparente "ideia de jirico" tinha uma razão de ser:
     - Moy brat, não é tão difícil assim de entender. Sabe, meu avô incorporou no Exército Vermelho como soldado. E foi subindo pelo seu esforço e competência. Por quê comigo não pode ser igual? Sou tão competente, dedicado e inteligente quanto ele. Qual o problema? - me dizia, na maior calma do mundo, em sua lógica peculiar.
     Mesmo assim fiquei ainda por um bom tempo inconformado. Pra mim não fazia sentido, como não faz até hoje. Em meu raciocínio um sujeito de classe média, remediado como ele era tinha um leque de opções muito maior do que um "filho da luta" como eu. Como eu sempre lhe dizia:
     - Se você é mesmo "tarado" por usar um uniforme, porque não fazer um curso superior primeiro e durante ou depois dele faz um concurso para a AMAN ou algo assim? Afinal, incorporar no Exército como oficial é milhões de vezes melhor do que como recruta!
Ele simplesmente me olhava com aquela sua expressão enigmática e repetia o acima. Mas eu insistia:
     - Mas Vinícius, os tempos são outros, as circunstâncias são outras, o país é outro! E não estamos em guerra...
E ele sério:
     - Sabe qual é o problema com vocês ocidentais, Flávio? Meu avô certa vez me disse que seu padrão de pensamento é muito linear e previsível. Não se arriscam, não exploram diferentes possibilidades, não inovam. Não alteram seu processo lógico e nem refletem em como isso os deixa estagnados, ignorando totalmente o quanto são prejudicados. Saia fora da sua caixa, moy brat! Você é inteligente, pode fazer isso. Pense diferente. Procure ver as coisas de outro modo. Se conseguir fazer isso sua vida mudará por completo, você vai ver.
     Dizendo isso, dava o assunto por encerrado. Pois é. Vim a aprender que não só os russos, mas todos os povos eslavos são os mais teimosos e obstinados seres humanos que já pisaram na superfície da Terra(bom, pensando bem até que isso não é de todo ruim. O mundo hoje seria outro se eles não agissem assim).
     Essa conversa toda se desenrolou pela primeira vez dentro do carro deles, ao me darem uma carona que tentei recusar sem sucesso. Quando chegamos ao Capão da Imbuia, bairro onde eles moravam, o Dmitriy - pai do Vinícius - perguntou onde eu morava, dizendo que me deixaria em casa. Recusei de todas as formas possíveis, alegando inconveniência pela distância e todos os outros fatores que pude imaginar. Com muito custo, consegui que me deixassem no terminal do Capão da Imbuia, onde peguei o ônibus para ir para casa. O verdadeiro motivo - difícil de admitir, é verdade - é que eu senti vergonha de apresentar a eles minha humilde residência e mais humilde ainda vizinhança. Mas, tinha mais uma coisa. Eu estava ardendo de vontade de "desfilar" em público com minha farda nova que era para mim naquele momento o maior símbolo de status e masculinidade que jamais tive.
Se é como o diabo diz que a vaidade é o seu pecado preferido, naquele dia eu o fiz sorrir com todos os seus dentes...

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