Como vão, pessoas!
Pergunto o que estão achando das experiências do nosso personagem até aqui?
Que rumos esta história vai tomar?
Será que ele passará em todos os testes?
Vejamos.....
5
Logo
em seguida o homem volta, e o ouço ordenar aos demais militares ali
presentes que prossigam com os exames. A partir deste detalhe,
concluo que todos os que estão ali são de patente inferior a
primeiro sargento. Dois cabos enfermeiros - vejo agora - entram onde
estávamos. Quando um deles chega em minha frente, diz sem cerimônia:
-
Você, abra a boca.
Abro-a,
e com modos grosseiros, ele olha minha garganta e apalpa as minha
amígdalas com uma das mãos, enquanto com a outra segura uma
lanterna que usa para vistoriar meus dentes, exatamente como se faria
a um cavalo numa feira agropecuária. Satisfeito com a inspeção, se
afasta um passo e ordena:
-
Pegue seu pênis com a mão esquerda.
Eu
o "acho" com alguma dificuldade, uma vez que o incidente
tragicômico que acabou de ocorrer, o constrangimento a que estava
submetido e aquele frio horroroso da manhã o deixaram com dimensões
apenas um pouquinho maiores do que um dente de alho...
-
Muito bem. Agora leve seu punho direito à boca e assopre com todo o
fôlego que tiver, enquanto observo.
"Uai!
Mas que troço esquisito!" Não me atrevi a perguntar por quê.
Mais tarde soube que esse exame estranho é um jeito rápido e
infalível de se descobrir se há uma ou mais hérnias de qualquer
natureza na barriga e em outros pontos.
-
Vire de costas.
Bate
com um martelinho ou qualquer coisa assim em cada uma das omoplatas e
em todas as vértebras, até o "rego". Apalpa meus músculos
dorsais, as coxas, as virilhas e as panturrilhas. Levanto os braços,
me abaixo até ficar de cócoras. Começo a me sentir como um judeu
num campo de concentração, sendo examinado exatamente como eles;
por homens fardados com um jaleco branco por cima.
Sou
ordenado a ir até o "guidão" e a puxá-lo com toda a
força que tiver. Fecho os olhos e o faço. Antes mesmo de abri-los,
escuto uma assovio longo, seguido da exclamação de um dos cabos:
-
Cento e cinquenta quilos! - se admira, anotando o resultado na minha
ficha.
Confesso
que me surpreendi. Concluo comigo mesmo - divertido - que o homem é
um ser "hidráulico" e que os músculos só puderam fazer
tanta força porque estavam irrigados com o sangue extra que veio de
uma parte muito específica da minha anatomia, em consequência do
frio...
Após
este teste, o "jagunço" ordena, num tom de voz em que
consegui detectar uma partícula qualquer de respeito:
- Vista-se, soldado. E aguarde no corredor imediatemente ao lado da
porta desta sala.
"Soldado?
Ele falou isso intencionalmente ou sem perceber? Bom, seja como for,
é como diz o ditado: 'Pra quem tá no mato qualquer rumo é
caminho'."
Visto-me,
saio para o corredor e aguardo do lado oposto da porta onde esperam
os outros 30 da “minha” fila. Vendo que fui o primeiro a sair,
olham-me inquisitivamente, tentando obter qualquer fiapo de
informação sobre o que raios tinha acontecido lá dentro. Como sei
muito bem que o peixe morre pela boca, limitei-me a responder em voz
baixa:
-
Nem queiram saber.
Enquanto
estava ali, de um estalo liguei os pontos. Saquei porque o “jagunço”
estava com aquela cara de terrorista, bem mais amarrada do que os
outros “milicos” no auditório logo cedo. Não fazendo parte do
corpo médico, com certeza não era voluntário para aquela
desagradável tarefa de pajear conscritos, muito menos ser obrigado a
ver pelo menos trezentos sujeitos pelados por dia durante
praticamente a manhã toda, cinco dias por semana, quatro meses por
ano(Fazendo-se as contas dá uns 24.000 “neguinhos” em variadas
condições de higiene, metidos apenas nos trajes de Adão. Haja
estômago!). A partir desta perspectiva, realmente tenho de dar razão
pro “baiano”. Só tinha uma coisa que não encaixava; Ele era
mesmo obrigado a nos monitorar atrás do biombo? Qual a necessidade?
Não poderia ficar na mesma sala, mas fora daquela área? Supus que
era para prevenir situações como aquela bizarra ocorrida há pouco.
De qualquer modo, pra isso eu nunca consegui achar uma resposta
plausível.
Em
questão de minutos, os outros nove que estavam comigo lá dentro
saem, conduzidos diretamente para fora da enfermaria. Antes de
levá-los, o sargento Barreto para por um momento e ordena que os
próximos dez entrem, ao mesmo tempo em que me diz para acompanhá-lo.
Pelo jeito só eu estava dentro dos padrões médicos exigidos pelo
Exército. Quanto estávamos fora do prédio, ele me orienta a seguir
direto para o próximo Posto de Testes onde estavam aguardando o
suboficial Macaris e o capitão Kapp, dando-me instruções
específicas de como chegar lá. Na afobação para sair logo dali,
não prestei muita atenção a tudo o que ele dissera. Depois de
dobrar à esquerda, depois à direita e à esquerda outra vez, já
estava perdido. Tentei me orientar de novo pelas placas indicativas
de uma das “esquinas” e num dos prédios mas, com as instruções
esquecidas, era como usar uma bússola sem mapa. Pensei em voltar por
onde vim e pedir para o “jagunço” repetir as instruções, mas
disse pra mim mesmo que a “mijada” ia ser líquida e certa. E
depois do que eu vi na enfermaria, concluí que qualquer coisa seria
melhor do que ter de me haver com o sargentão.
Olhando
em volta, resolvi entrar na primeira porta que vi em busca de
qualquer informação que me ajudasse a chegar no meu destino o mais
rápido possível. Fui parar nas instalações que eram o refeitório
dos praças. Ao entrar, me deparei com uma estrutura de
botequim-de-beira-de-estrada. Um único soldado em mangas de camisa
estava limpando o chão com um esfregão. O serviço devia ser
pesado, para já sentir calor naquela hora da manhã. "Estou
salvo!", pensei.
-
Bom dia. Por favor, preciso de uma informação.
Ele
não me dá a mínina. Propositalmente, começou a fazer movimentos
mais amplos e lentos com o "mop". Durante um longo minuto,
permanece nisso até que por fim levanta a "cabeleira" e a
coloca dentro de um balde. Olha para mim com a melhor cara de deboche
que consegue fazer e cruza os braços em uma atitude hostil:
-
O que você quer?
-
Preciso de uma informação - repito - Sabe onde fica a pista de
atletismo?
Ele
olha para os dois lados, como se procurasse quem soubesse a resposta.
Mede-me de cima a baixo, e finalmente diz:
-
Está vendo aquele prédio lá onde está escrito infantaria no
telhado? - aponta para atrás de mim e um pouco à direita, na
direção de um prédio mais distante, em direção aos fundos do
quartel.
-
Sim, estou. - respondo.
-
Siga naquela direção até chegar no primeiro barracão à direita,
que é a oficina. Ali, vire à esquerda e siga por um rua ladeada por
árvores até o final. Depois vire à direita e continue na rua de
saibro ladeada pelo muro à esquerda até encontrar um pequeno
bosque. Atravesse-o. É depois deste arvoredo está a pista de
corrida. - disse ele, com uma expressão que eu acho que já tinha
visto antes. Mas, naquele momento eu não saquei nada, agitado como
estava.
-
Muito obrigado! - respondo e saio apressado na direção indicada.
Faço
todo este percurso e quando chego nas árvores, encontro apenas uma
picada estreita que parecia não ser muito usada. Achei esquisito,
mas segui em frente. Apressado como estava, fui caminhando sem olhar
muito por onde andava. Quando dei por mim estava no chão - estendido
em todo o meu comprimento - com lama até na boca.
Continua...
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