Bom dia, boa tarde, boa noite, pessoal.
Mais uma vez devo-lhes desculpas, porque ultimamente tenho tido alguns imprevistos, que me dificultaram muito publicar as postagens aqui no blog.
Acontece que ocorreu um grande problema técnico... Explico, o HD do meu computador "deu pau", e perdi muitos dos meus escritos. O pior disso tudo é que, como estou sem micro em casa, está díficil de reescrever o que perdi e escrever coisas novas. Assim, estou usando, para terem uma idéia, intervalo de almoço para escrever e uma "brechinha" para postar, como agora, por exemplo. Por isso peço-lhes humildes e sinceros perdões, fiéis leitores...
"Está perdoado, não se preocupe!"
Ah! Que alívio em "ouvir" isso. Na semana que vem esta situação se normaliza, uma vez que meu HD novo já está encomendado. Bem, não quero fazê-los esperar mais. Vamos ao que interessa?
22
Penitência
paga, hora do banho. A água estava gelada pra rebentar, porque já
eram horas e o aquecimento feito por caldeira. A água quente há
muito tinha se esgotado com os que tinham tomado banho lá pelas seis
da tarde. Depois disso o aquecedor era desligado para economizar a
escassa verba de que dispunha o batalhão. O desgraçado do cabo
passeava pelo corredor entre os chuveiros para se certificar de que
ninguém estava "simulando". Achei isso o cúmulo, mas não
disse nada. Já tinha tido o suficiente por aquele dia.
Após
alguns minutos daquele "banho russo", consigo ter
autorização do supervisor para sair debaixo daquela "cachoeira
da Sibéria", me enxugando e vestindo a roupa fornecida pelo
"almox". Sou liberado e sigo para o dormitório, onde me
deito na cama a mim designada. Que cobertor "lazarento"!
Áspero como um carpete velho e tão rígido quanto, pinicando o
corpo como se estivesse deitado em um monte de capim. Também era da
inevitável cor verde-oliva. Notei que nele estava escrito em tinta
preta o "mat bel". Não consegui dormir enquanto todo o
povo não chegou, por duas razões; Primeira, a luz estava acesa,
porque os recrutas estavam chegando do vestiário aos poucos.
Segundo; o barulho que faziam nesse processo. Nunca consegui dormir
no claro e com ruído. Isto inclusive foi motivo de muitas brigas lá
em casa, porque compartilhava o quarto com meu irmão, que sempre foi
um bagunceiro nato, com "fogo no rabo", literalmente.
Apenas uns vinte minutos depois é que todos estão no alojamento e
um deles se digna a apagar a luz. Finalmente um pouco de sossego, é
o que imagino. Mas, como tudo o que é bom dura pouco... Quando fecho
os olhos, um súbito clarão me inunda, como se apontassem uma
lanterna diretamente para minha cara. O mesmo desaparece assim que
abro os olhos. Levanto a cabeça de súbito, procurando o
engraçadinho. Não vejo ninguém se mexendo, também não falo nada.
Volto a apoiá-la no travesseiro. Quando fecho os olhos, outra vez o
maldito clarão. Flexiono o tronco, apoiando os braços no colchão e
grito, puto da cara:
-
Quem é o porco que está me ofuscando com a lanterna?
Ouço
uma voz não muito próxima me responder:
-
Vai dormir, otário! Não está vendo que é o facho de luz da torre
de controle da Base Aérea?
Nem
bem ele termina de falar isso, quando o maldito farol passa novamente
por mim. Sinto um calor subindo pelo meu rosto, estou morto de
vergonha. Ainda bem que estava escuro. Recosto-me outra vez na cama e
cubro a cabeça com aquele pedaço de tecido eufemisticamente chamado
de cobertor para não ser incomodado por aquela luz horripilante.
Estou pregado. Os olhos ardem, como se estivessem cheios de areia.
Tudo se aquieta. Começo a ouvir fungadas e soluços. Penso que estou
sonhando, mas me dou conta de que o que escuto é real. Tiro o
cobertor da cabeça e olho na direção de onde o som estava vindo.
Duas camas além da minha, à direita. Se não me engano, quem estava
nela era o Silveira, que fora o segundo "chargeado" daquele
dia. Apuro as orelhas e distingo que é de fato um choro. Contido,
mas sentido o bastante para que percebamos do que se trata. Temos um
"frouxo" entre nós. Eita ferro!...
Demoro
apenas alguns instantes mais para adormecer. Mas, independente como
é, minha mente aproveita o último grama de energia que resta para
voar novamente. E em seu vôo de galinha, ela se dirige para uma
experiência bem recente; a entrevista com a tenente Kayla. Aquela
maravilhosa deusa grega... Afrodite, na minha opinião! Que boca
maravilhosa... Que rosto... Que voz... Que... menin... lind...
que...! ...! ...
Pá,
pan pan pan pan panpanpan, panpan...
Pá,
pan pan pan pan panpanpan, panpan...
Acordo
assustado, ouvindo o toque da alvorada muito mais alto do que eu
imaginava. Parece que colocaram o maldito do corneteiro bem embaixo
da janela do nosso alojamento. Quando o cérebro consegue coordenar o
foco, não acredito no que vejo. O corneteiro não estava no pátio
do pavilhão. Estava em frente às nossas camas!
"
Isso é o toque da alvorada ou alarme antiaéreo, cacete? "
A
baderna é generalizada. Com o susto, a tropa se desorganiza,
levantando-se aos arrancos, trombando, caindo, rolando... Um
pandemônio. Olho para a porta da alojamento e vejo nitidamente um
sorriso de canto de boca de ninguém menos que o jagunço, que para
bagunçar ainda mais a coisa, coloca-se a berrar como um possesso, a
fim de pôr ordem naquela reação em cadeia... Mas, caramba! Foi ELE
quem provocou aquilo, e agora grita para ajeitar a coisa? Eu
francamente não entendo mais nada. Quando a poeira abaixa um pouco,
ouço-o ordenar:
-
Sentido! EU DISSE SEEEEENNNNTIDO! - e prossegue - Prestem atenção!
Os senhores tem UM MINUTO para arrumar suas camas! Aquele que
terminar poste-se ao lado dela para a inspeção, e ai daquele que
não fizer direito! Vou jogar uma moeda em cima da cama, se ela não
pular o seu ocupante é quem vai quicar na rola, entenderam? Ao meu
comando! VAI!
Aquilo
parecia mais uma gincana escolar do que um alojamento militar. Só
dava neguinho trombando, correndo e escorregando para cumprir ao pé
da letra a ordem do jagunço. Para completar o "clima", ao
final do minuto cronometrado, o sargento deu um sonoro e estridente
apito.
-
Tempo esgotado! Às suas posições!
Dei
graças a Deus por ser eu quem cumpria lá em casa com todas as
tarefas domésticas desde os dez anos. Não era segredo para mim.
Apenas nunca tive de fazer isso com tanta rapidez.. Olho para os
lados. Os colegas à direita e à esquerda estão apavorados. Olho de
relance para as suas camas. Iam se ferrar com certeza e sabiam disso.
Percebendo meu movimento, olham a minha e fazem comparações,
chegando quase às lágrimas por perceberem que estão "lascados".
A inspeção começa, paralela a uma torrente de insultos sem
precedentes em minha curta existência. Francamente, sempre me
perguntei aonde era esta maldita fonte do capeta, d'onde nossos
superiores bebiam sofrega e abundantemente todo santo dia,
abastecendo seus vocabulários com termos chulos simples, mistos e
compostos que fariam corar uma dona de boate.
Na
quinta inspeção, o jagunço perde por completo a paciência e nos
promete punição integral e extensiva à toda a "recrutagem"
após a cerimônia oficial de incorporação que aconteceria logo na
sequência. Manda-nos vestir o uniforme e formar fora do prédio pra
seguirmos para o café da manhã. Estou meio surdo, não só por
causa do berros do homem, mas também por causa daquele toque da
alvorada "todo especial", dedicado aos mais novos
integrantes do batalhão.
Lá
fora estava um frio do cão, já que em meados de março, dependendo
do ano, começa a gear na "cidade sorriso". Recomeço a
praguejar, porque se ontem estávamos pesadamente vestidos para
aquele sol "maçarico", hoje estamos penosamente mal
equipados para enfrentar o frio da manhã. A única coisa que me
consola é que com certeza haverá um bom café bem quentinho, que
tanto vai nos aquecer como despertar, já que a noite foi muito mal
dormida. Vem a ordem, e nos dirigimos para o refeitório. Fico
contente de sair daquele frio e ante a perspectiva de encher o bucho
de bóia, já que a "usina" estava sem matéria prima e
naquele momento fazia insistentes requisições do que quer que fosse
"comível". Já estamos pegando o jeito, marchando
direitinho. A galera já está "sacando o bizú"...
Continua...
Continua...
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