Olá, amigos!
Com algum atraso publico esta parte. Novamente a agenda está espremendo ao mínimo o meu tempo livre. Mas, sigo com o ritmo, ainda que tropeçando, caindo, levantando e seguindo...
Os acontecimentos que estão sendo descritos pelo Flávio já estão nos dando uma pequena noção do que é realmente a vida na caserna. Vamos continuar, então a acompanhar a sua narrativa?
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Enquanto
me coloco junto aos outros, observo seus rostos. O russinho está que
não se aguenta. Sua gandola está empapada, como a minha. O Sandro
me olha de relance, numa comunicação muda que me informa estar
sentindo um misto de raiva, cansaço e desconforto. O Jackson
"armário" está suado, mas não está com cara de morto
como o resto de nós. Também, pra quem trabalhava lombeando sacos de
cimento e "batendo massa" o dia todo, aquilo era
brincadeira!
Em
seguida, o sargentão recomeça o palavrório:
-
Ótimo, recrutas. Depois deste exercício estimulante, os senhores
irão receber mais uma parte da sua instrução sobre a hierarquia e
traquejo militar. Retomem formação dupla e sigam-me! Em formação!
Marchar!
Lá
fomos nós outra vez para o auditório do pavilhão. Continuamos a
receber a instrução designada pela manhã. Nem preciso dizer que
esta sessão foi tão tediosa quanto a de cedo, se não mais. Só que
desta vez ninguém no grupo se atreveu a dormir. A turma já estava
ficando "escolada". O tempo escoa lentamente, e tenho de me
esforçar muito para que a mente não vagueie. Tenho a tendência de
não lhe por freios, assim ela voa livremente para onde bem entende.
O problema é que com o passar do tempo a danada, desacostumada com
regras, se torna indisciplinada e irriquieta, protestando pronta e
veementemente contra toda e qualquer tentativa que eu possa fazer de
lhe impor qualquer tipo de restrição, assim como um cachorro
acostumado a correr livre se ressente - ou até mesmo morde - quando
é atado a uma coleira e sua correspondente guia. Mas a pior parte
não é colocar-lhe as rédeas, passa a ser mantê-las. E aí se
reinstala o eterno duelo entre o Tom e o Jerry; "sonhar não
custa nada!"... "é, mas para que algum dia um destes seus
sonhos possa ter a mais remota chance de se tornar realidade é
necessário se concentrar nela!"... "Sim, mas alguns deles,
por mais que me esforce nunca se tornarão algo concreto"...
"Então se concentre naqueles que são realizáveis e esqueça-os
enquanto luta, fincando bem os pés no chão"... "Mas
acontece que todos são irrealizáveis"... "Isso é papo de
perdedor, comece pelo primeiro degrau da escada e realize-os, um por
vez. Assim você pode chegar aonde quer..."
Por
vezes este confronto já é o suficiente para me tirar a atenção do
que quer que seja. A minha sorte é que tenho duas habilidades
salvadoras; capacidade de raciocínio rápido e dedução lógica
apurados. Que, diga-se de passagem, já me tiraram de enrascadas
várias vezes, como agora. Vendo minha cara de paisagem, o "jagunço"
me pergunta, à queima roupa:
-
Vinte e seis, qual é o posto imediatamente superior ao de major?
Dou
um pulo da cadeira, porque o desgraçado fez questão de me berrar
bem no pé da orelha. Senti até algumas gotas da sua saliva batendo
contra o meu pescoço:
-
Ahn...ééé... - balbucio, tentando reorganizar os meus pensamentos,
e em seguida, num estalo - Tenente-coronel, senhor!
O
sargento nada diz, apenas grunhe insatisfeito. Ele queria que eu
errasse, por motivos óbvios. Mas nesse caso específico, posso dizer
que a "sorte ajuda quem a ajudou antes"... Acontece que
sempre fui fascinado por história, em especial pela da Segunda
Guerra Mundial. Li muitos livros a respeito, que em geral tratavam
dos militares dos mais diversos países. E em todos observei os
postos e a hierarquia entre eles. Foi só por isso que consegui
responder a esta pergunta. Não quero nem pensar no "cozido"
que ele tinha já pronto para me dar...
A
partir dali fiquei esperto. Minha mente viu que quase deu "caca"
e decidiu por fim ficar quieta por sua própria conta, sem nem
precisar mais da minha intervenção. Foi a melhor coisa que fiz, ou
melhor, "fizemos", porque a cada pouco o Barreto voltava à
carga, sempre com perguntas mais elaboradas, inclusive com "cascas
de banana", fazendo todo o possível para que eu escorregasse em
uma delas. Naquele momento, abençoei mil vezes meu bom hábito de
leitura porque foi o que me salvou. Afinal, raciocínio rápido não
vale nada sem ter com que raciocinar. Um porsche sem combustível não
sai do lugar, meu velho!
Entre
uma questão e outra, giro discretamente a cabeça ao redor, à
procura dos meus amigos. E os olhares que vejo são de admiração. O
Vinícius me olha com satisfação, por perceber que tem um amigo
"duro na queda", conforme me disse mais tarde. Depois de
umas duas horas de "entrevero" o sargento entrega os
pontos, pelo menos naquele momento. E assim chegamos às 17:00, que o
instrutor anuncia com a seguinte frase:
-
Recrutas, são 1700 horas! Irei conduzi-los até o "almox"
novamente, onde os senhores pegarão o restante do "enxoval"
que lhes cabe. Na sequência, recolherão em seus armários
provisórios a sua tralha e serão dirigidos até seus alojamentos
definitivos, onde irão alocá-las em seus respectivos "depósitos".
A cada um será designada uma cama, de acordo com o seu número de
matrícula,...
"Peraí!
Alojamento? Cama?"
-
...já
que estão
informados que todos, sem exceção a partir de hoje se encontram em
regime de internato durante as próximas quatro semanas. Entendido?
"
Essa não!"
Continua!
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